O Museu Middelheim (Middelheimmuseum) é um museu de esculturas a céu aberto localizado no Parque Middelheim (Middelheimpark) na Antuérpia, Bélgica. O local é um encontro entre natureza e arte, e exibe obras criadas por artistas de diferentes períodos, e oriundos de diversas partes do mundo.
Dá para passar horas passeando lá dentro, caminhando por entre as árvores, pelos campos abertos, e apreciando as esculturas e instalações. Passei uma manhã inteira explorando o Middelheim, e mesmo assim não consegui ver tudo de jeito nenhum. Eu não tinha um roteiro fechado (apesar de ter algumas obras específicas que queria muito ver), apenas fui caminhando e me surpreendendo.
O conceito do Museu Middelheim é incrível, pois se trata de arte acessível para todos, disponível de forma gratuita, e a céu aberto. É natureza e arte juntas, e vamos combinar que essa mistura é maravilhosa. O museu vale muito a visita, pois o local é capaz de agradar até mesmo aqueles que não entendem nada de arte, especialmente por não se tratar de um museu convencional. Como o museu se encontra fora do centro histórico da Antuérpia, então geralmente ele não faz parte do roteiro dos turistas que passam apenas um dia na cidade.

Entrada do Museu Middelheim

“Firmamento III” (2009) de Antony Gormley

“Envelope” (1996) de Tonny Cragg
Sobre o Museu Middelheim
O Museu Middelheim nasceu de uma exposição internacional de esculturas realizada no parque em 1950. O sucesso da exposição foi tão grande que de temporária ela passou a ser permanente (acontecerem 20 edições, sendo a última em 1989), isso por sugestão do prefeito da Antuérpia na época. Ao longo dos anos a área pertencente ao museu foi se expandindo, e a coleção de obras cresceu, se transformando então no espaço que conhecemos hoje.
Hoje em dia, vira e mexe, novos artistas são convidados para participarem de exposições individuais e coletivas, e esses trabalhos por vezes são incorporados a coleção permanente, enquanto outros são exibidos apenas por um determinado período. Já algumas obras foram criadas especificamente para o museu.
Atualmente o Museu Middelheim abrange uma grande área dentro do parque, são cerca de 30 ha. O local é dividido em duas partes por uma rodovia que passa bem ao meio, ou seja, um corte que separa o museu em dois: Middelheim-Laag (parte norte) e Middelheim-Hoog (parte sul). Ambos os lados são interessantíssimos, e repletos de obras curiosas.
O Museu Middelheim possui nove entradas espalhadas pelo parque. O local é bem sinalizado, e tem placas com o mapa do museu (indicando a localização de todas as obras) nas três entrada principais. Além disso, você também pode pegar um mapinha de papel no centro de informações ao visitante, localizado no Middelheim-Hoog. Existe a opção de fazer a visita livre, que foi o que eu fiz, ou então alugar um audioguia no centro de informações.
A coleção
Focado em escultura moderna e contemporânea, o Museu Middelheim conta com cerca de 1.800 obras que foram coletadas ao longo dos anos. A coleção permanente é notável, um mix de instalações e esculturas de diversos períodos, desde 1900 até os dias atuais. Os artistas exibidos variam de velhos conhecidos do século passado, como o francês Auguste Rodin (1840-1917), a contemporâneos, como o artista norte-americano Chris Burden (1946-2015), e o português Pedro Cabrita Reis (1956-).

“A Donzela Louca” (1912) de Rik Wouters

“Balzac” (1892-97) de Rodin

“Pegasus” (1949) de Carl Milles, e “Disciplina da Subjetividade” (2006) de Erwin Wurm

“Yayoi” (2005) de Corey McCorkle

“Duas Figuras para o Middelheim” (1993) de Juan Muñoz

Uma das figuras de Juan Muñoz
Tem muitas obras incríveis no Museu Middelheim. Vale destacar a escultura “Inconcebível” (2010) do artista austríaco Erwin Wurm (1954-). O barco torto prestes a mergulhar na água se tornou um dos símbolos do museu (foi o que me levou até lá a princípio).
Outra obra que vale o destaque é a “Beam Drop Antwerp” (2009) de Chris Burden, que traduzindo de forma livre significa “Queda de Viga”. A estrutura da escultura já chama atenção, mas a maneira como ela foi feita é o que mais impressiona. A obra foi construída ao vivo na abertura da exposição de Burden em 2009. Em um vão no chão (de 2,5 m de profundidade) foi colocado concreto líquido, e em seguida as vigas de metal foram jogadas de uma altura de 45 m com a ajuda de um guindaste.
O uso de vigas em tamanhos variados resultou em uma estrutura irregular, com muita presença e personalidade. Burden deu uma de Pollock, mas utilizando vigas de aço no lugar de tinta. Sem dúvida é uma performance que eu adoraria ter presenciado ao vivo.
Aliás, essa escultura já foi criada em vários outros locais, inclusive no Brasil, no Instituto Inhotim. A técnica utilizada é sempre a mesma, mas cada escultura é única.

“Inconcebível” (2010) de Erwin Wurm

“Bean Drop Antwerp” (2009) de Chris Burden
O paisagismo como obra de arte
No Middelheim-Hoog, ou seja, na parte sul do museu, tem uma área projetada pelo arquiteto e paisagista Michel Desvigne (1958-), localizada ao lado da Beukenlaan. O paisagismo de Desvigne utiliza de formas simples na criação de um pomar ornamental que conta com 1.500 árvores, macieiras e pereiras. As árvores foram plantadas seguindo padrões ora mais densos ora mais esparsos, criando espaços abertos onde foram colocadas esculturas – a “Beam Drop Antwerp” de Burden está ali.
Eu visitei o museu durante o inverno, então as macieiras e pereiras não estavam cheias de folhas, mesmo assim o jardim estava bonito. Fico imaginando no verão como deve ser agradável essa área.
Além disso, o parque também conta com diversas árvores centenárias e enormes, que aparecem em destaque (em amarelo) no mapa do parque.

Paisagismo criado por Michel Desvigne

Uma das árvores do pomar criado por Michel Desvigne

Árvore do pomar
Além da coleção
Ali pertinho também tem uma zona de armazenamento de partes de obras desmontadas, e esculturas mais antigas que precisam de restauro, ou então que vão ser levadas para um outro local. Ou seja, é um armazém ao ar livre aberto aos visitantes. Achei curioso deixarem essas esculturas por ali, já que geralmente essa parte dos museus nunca é vista pelo público. Por um momento me perguntei se a minha presença no local era permitida (mas era!). Achei interessante ver esse outro lado, ou seja, as obras fora de seu posto intocável, meio amontoadas e sem cerimônia.

Zona de armazenamento de esculturas no Museu Middelheim
O que mais fazer no Museu Middelheim
Além de apreciar as obras de arte do museu, você também pode aproveitar para fazer uma atividade ao ar livre, como por exemplo um piquenique, que é liberado em qualquer área do parque.
Um piquenique é um programa muito agradável, principalmente em um dia bonito com o céu azul. Inclusive, é possível faze-lo dentro de uma das obras de arte, a AVL Franchise Unit (2002). A obra se trata de uma construção polivalente desenvolvida especialmente para o Middelheim pela coletiva de artistas da AVL (Atelier Van Lieshout). Dentro da AVL Franchise Unit tem cozinha, banheiro, eletricidade, bem como um sistema de purificação de água. É necessário fazer reserva se o grupo for grande, acima de 10 pessoas.

“Duas Mulheres Grávidas” (1952-53) do escultor Charles Leplae

“Sphairos” (1998) do artista austríaco Franz West

Ver as obras bem de pertinho é mais legal!

“Modelhäuser Typ Bomarzo” (2001) de Tim Ulrichs

“Pavilhão de Colunas” (1982) de Charles Vandenhove, obra de arte e espaço para exposição

Parte da obra “Bidon Bleu” (2012) de Roman Signer

Escultura “Shouting Is Breathing” (2006) de Honoré d’O

“Dupla Progressão” (1969) do artista venezuelano Jesús Rafael Soto
Como chegar ao Museu Middelheim
O Museu Middelheim, como já disse anteriormente, fica fora do centro histórico da Antuérpia. No entanto, existem várias maneiras de chegar até lá: transporte público, carro, bicicleta, e para os gostam muito de andar, os próprios pés.
Para chegar no museu utilizando o transporte público, basta checar o planejador de rotas da De Lijn (o sistema de transporte público de Flandres), e assim descobrir a melhor maneira de se locomover a partir de onde você está. O site tem versão em inglês, funciona bem, e é prático. Já para quem está de carro, estacione na Beukenlaan, uma das entradas do museu fica a apenas 300 m do estacionamento.
Outra forma de chegar ao Middelheim é pedalando, pois o caminho do centro da Antuérpia até o museu é bem plano. Tem estacionamento para bicicletas nas três entradas principais do museu, assim como uma estação da Velo (bicicletas compartilhadas).
Já eu gastei sola de sapato para chegar ao Middelheim, pois juntei a atividade cultural e o exercício físico em um programa só. Demorei cerca de 50 minutos para ir do Stadspark (Parque da Cidade) até o museu. No entanto, não recomendo ir caminhando a não ser que tenha bastante tempo livre e disposição.
Informações práticas
Quanto: de graça.
Quando: aberto de terça a domingo. De outubro a março das 10h às 17h, abril das 10h às 19h, maio das 10h às 20h, junho e julho das 10h às 21h, agosto das 10h às 20h, e setembro das 10h às 19h.
Onde: Middelheimlaan 61.
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